Uma rede criminosa cada vez mais sofisticada, violenta e impune se expande pelas florestas da Amazônia, alimentada pela mineração ilegal e sustentada por uma força armada que deveria proteger a lei: ex-policiais militares e civis que se aliam a garimpeiros e atuam como milicianos. As investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público (MP) revelam um cenário alarmante: o garimpo ilegal deixou de ser apenas um problema ambiental ou de saúde pública – ele se tornou um braço da criminalidade organizada, apoiado por agentes públicos corrompidos.
Em fevereiro de 2023, na zona rural de Caracaraí (RR), um agricultor foi vítima de um sequestro cinematográfico e cruel. Dois policiais civis do Amazonas, armados com submetralhadoras e escopetas, usaram distintivos para atrair a vítima sob o pretexto de investigar um tiroteio. Era uma cilada. O homem foi rendido, algemado e torturado com choques elétricos e agressões físicas em busca de uma carga de cassiterita — o chamado “ouro negro” da Amazônia — avaliada em R$ 1 milhão, extraída ilegalmente da Terra Yanomami. A brutalidade foi tamanha que outros três homens armados, dizendo-se integrantes do Bope de Roraima, participaram da sessão de tortura. O agricultor só foi liberado após ser ameaçado de morte caso denunciasse o ocorrido.
O que os sequestradores não sabiam era que a vítima era irmã de um policial. O caso chegou ao MP e desencadeou uma operação da PF que prendeu seis pessoas, incluindo os dois agentes civis, o delegado responsável por eles e um policial militar. A ação revelou uma engrenagem criminosa bem montada, em que agentes públicos transportavam e protegiam o minério ilegal em troca de propinas e influência. Mais do que corrupção, trata-se de uma milícia — armada, organizada e infiltrada no próprio Estado.
Relatórios policiais e documentos obtidos junto ao MP e à PF revelam a atuação de verdadeiras máfias armadas a serviço do garimpo ilegal em diversas regiões da Amazônia Legal. São ao menos dez grandes operações deflagradas nos últimos dois anos, apontando a mesma estrutura: policiais fazem segurança privada para garimpeiros, lavam dinheiro, fornecem armas e até comandam áreas inteiras de mineração dentro de terras indígenas, intimidando rivais e silenciando denúncias com ameaças de morte ou assassinatos encomendados.
O pesquisador Aiala Colares Couto, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é direto: "O que está em curso é a milicianização do garimpo. Agentes do Estado, pagos com dinheiro público, tornaram-se operadores logísticos da mineração ilegal. O poder econômico desse setor ilegal alimenta uma rede de corrupção sem precedentes.” E os números assustam. Só em Roraima, pelo menos 100 policiais militares são apontados como envolvidos diretamente com atividades garimpeiras, segundo levantamentos do MP baseados em denúncias e relatórios de inteligência.
O caso do ex-major Gilson Viana, conhecido como “Mutum”, resume bem o perfil desses novos pistoleiros fardados. Mutum era um ex-PM foragido da Justiça e acusado de ao menos dez assassinatos relacionados a disputas por ouro na Terra Yanomami. Foi morto a tiros num bar do garimpo em dezembro de 2024, mas seu nome ainda assombra a região. Ele era temido e protegido por um esquema criminoso que incluía fornecimento de armamento pesado e combustível para os garimpos — parte disso, segundo a PF, com aval de oficiais da ativa.
No Pará, a situação não é menos grave. Em setembro de 2024, quatro policiais — incluindo um delegado e dois sargentos — foram presos por atuarem diretamente como donos e operadores de garimpos ilegais na Terra Indígena Kayapó. O delegado cobrava até R$ 500 mil para liberar a extração de ouro em áreas como Moça Bonita e Santile, e usava seu cargo para afugentar a ação da própria PF. O escrivão do grupo, segundo o Coaf, movimentou R$ 39,8 milhões em sete meses — valores incompatíveis com qualquer salário público. Já um PM da quadrilha agia como “xerife”, sendo o principal suspeito do assassinato de um rival em 2023.
Outro escândalo veio à tona em novembro de 2024, quando a PF mirou oficiais da PM do Pará que forneciam apoio logístico a mineradoras ilegais ao longo da Transgarimpeira. As interceptações telefônicas revelaram que viaturas oficiais eram usadas para transportar ouro extraído ilegalmente da Terra Indígena Munduruku. Um coronel da PM determinava o deslocamento de tropas para garantir a segurança dos pagamentos feitos aos garimpeiros — comportamento típico de milícias urbanas agora transplantado para o coração da floresta.
Especialistas alertam que o envolvimento de policiais com o garimpo não é um desvio ocasional, mas um modelo institucionalizado de “bico” que se tornou parte da rotina. Rodrigo Chagas, professor da Universidade Federal de Roraima, afirma: “Em Roraima, o bico dos policiais é no garimpo. É uma estrutura histórica, onde os policiais são os operadores armados dos empresários e políticos que comandam essa máquina criminosa.”
A Amazônia virou terra sem lei, onde a autoridade do Estado está sendo sequestrada por milícias fardadas a serviço da mineração ilegal. A cada novo escândalo, as instituições se dizem surpresas e prometem apurações, mas o rastro de violência, corrupção e destruição ambiental cresce como uma mancha irreversível. A pergunta que ecoa entre os povos indígenas, ambientalistas e os poucos investigadores que ainda ousam enfrentar esse sistema é uma só: até quando o Brasil vai tolerar que sua floresta, seu povo e suas instituições sejam devorados pelo ouro sujo da ilegalidade?
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